Os nossos neurónios | Carlos Rui Ferreira é instrutor desta arte “mais célebre do que conhecida”. Estudou com os mestres indianos e é o nosso grande impulsionador da prática de yoga, dispondo-se aqui e agora a desmistificar as ideias feitas e os abusos que esta técnica com cinco mil anos sofreu, até chegar a nós “a moda do yoga”
A arte do YOGA
Não, o yoga não são aqueles maluquinhos sentados durante uma hora a meditar ou a cantarolar mantras de paz e amor. O yoga é assim mesmo: no masculino e com y, sem acentos circunflexos ou traduções abrasileiradas do original indiano. Não é apenas o último grito na moda do fitness, capa da Time de Abril passado, ou desporto favorito das estrelas de cinema. É uma disciplina antiga que urge desmistificar para perceber o que andam a fazer milhares de instrutores no mundo ocidental. Carlos Rui Ferreira continua a investigar diariamente com as centenas de alunos que o procuram e, enquanto não regressa da Índia, deixa aqui as respostas às nossas dúvidas sobre as origens e os efeitos, as escolas e os charlatões, enquanto nos fala sobre a sua experiência: desde o final dos anos 70 a separar o trigo do joio numa disciplina desde sempre adaptada e edulcorada ao sabor dos interesses
Entrevista de Sandra Oliveira | Fotografias de Raul Cruz
Notícias Magazine (NM) — Como foram os primeiros contactos com o yoga?
Carlos Rui Ferreira — O meu interesse pelo yoga começou em 1978, entre os 18 e os 20 anos, na mudança de idade, quando precisa-mos de referenciais e numa altura em que as propostas profissionais não me motivavam muito—era um miúdo mais ou menos outsider e andava sempre chateado com o mundo…
Por acaso cruzei-me com um indiano, o senhor Unas, com quem jogava xadrez e que ganhava a toda a gente. Espantava-me a concentração, a tranquilidade do indivíduo em meios adversos, e calhou uma vez encontrá-lo a fazer uns exercícios meio esquisitos: estava a fazer yoga. Foi ele que me suscitou a curiosidade pelo controlo da mente e me ofereceu um livro sobre yoga.
A partir daí comecei a comprar todos os livros, pois nem sabia que havia escolas ou aulas. Pensava que o yoga se aprendia pelos livros. Eram quase todos brasileiros e uma grande salsada, primeiro que eu atinasse com o que era o yoga… Quanto mais livros comprava, pior: mais doutrinários e moralistas, muita paz, amor, não faças isto, não faças aquilo. Mas prática de yoga nada, era tudo teórico.
Depois encontrei alguns movimentos que davam aulas em Portugal e comecei a praticar em todos os sítios onde faziam yoga. Uns gostei mais, outros menos, outros não percebia nada, e não tinha qualquer referencial que me desse sentido crítico. À partida, tinha a ideia romântica de que todas as pessoas que davam aulas de yoga eram fantásticas, quase iluminadas, e elas também faziam por isso, colocavam-se num pedestal, em atmosferas extremamente sedutoras. E eu sentia-me um peixe fora de água: todos me falavam de grandes experiências que tinham, quase viagens…
NM — Levitações?
Carlos Rui Ferreira — Quase. Tinham sensações fantásticas nas meditações, enquanto eu, ao fim de cinco minutos já me doía o corpo, estava chateadíssimo de estar ali quieto, a cabeça não parava e não percebia como no fim as pessoas estavam com aquele ar de êxtase, a falar de luz, som e visões. Até que comecei a perceber que se calhar algumas daquelas pessoas sofriam de verdadeiros problemas mentais, e talvez necessitassem de acompanhamento médico! Fui-me apercebendo da má formação de algumas das pessoas que lideravam movimentos, da incoerência prática com o que preconizavam, e da intenção de se aproveitarem. Pontualmente, encontrei algumas pessoas extremamente honestas e agradáveis – das quais ainda hoje sou amigo – mas foram a excepção nesses meios do yoga e de movimentos místicos ocidentais. Então, decidi ir à Índia.
NM – Como correu essa experiência?
Carlos Rui Ferreira – Na altura pouco se sabia em Portugal a respeito do que se passava na Índia, e fui com um conjunto de referências nas mãos – nomes como Iyengar, Sivananda – ver o que encontrava: queria mesmo era estudar yoga. O meu encontro com o lyengar foi puramente casual: não sabia nem a cidade onde ele vivia, procurava um homem num país que é quase um continente…
Na Índia, ao contrário do que muitas vezes se supõe, ninguém sabe nada de yoga: pertence a círculos muito restritos, o indiano médio não sabe nada de yoga, nunca ouviu falar e tem mais que fazer – não é como na China, onde toda a gente faz Tai Chi.
Casualmente, cruzei-me em Bombaim com um condutor de táxi que tinha um OM pendurado – que é um símbolo que têm por todo o lado – e, na minha ingenuidade, comecei a falar todo contente: “Om, símbolo do yoga” e tal, e o motorista lá me disse que tinha visto uns programas de televisão com um mestre de yoga, um tal de lyengar que tinha a sua escola em Puna… E lá vou eu para Puna, de táxi branco, meio receoso de que o homem me pudesse estar a enganar pela pequena fortuna (na Índia, não aqui) daquela viagem de táxi.
E encontrar o lyengar em Puna, uma cidade seis vezes maior que Lisboa? Ainda por cima em Puna existe uma escola, o Oxo, para onde vão todos os ocidentais, muitos japoneses e americanos, fazer as suas alienações: experiências esotéricas ou bacanais, viver a libertação sexual num paraíso de desinfectante e ar condicionado, que nada tem a ver com a Índia. E mandavam-me sistematicamente para o Oxo.
Andei três dias até descobrir no lado oposto da cidade o instituto do Iyengar. No qual fui muito mal recebido, porque eles não são conhecidos pela simpatia, e queriam lá saber que eu viesse não sei de onde! Puseram-me logo na rua, e tive de esperar mais três dias até conseguir um vago compromisso de ter umas aulas passado um ano… E foi aí, em 1988/89, que começa a minha história com o lyengar.
Entretanto, fui a outros locais de referência na índia, tive aulas com vários professores, e passado um ano lá estava eu. Consegui uma situação de compromisso, e embora não seja um professor formado por eles, tenho aulas no Instituto lyengar há já anos.
NM – Para alguém se orientar no meio de todas as escolas e tipos de “yoga” com nomes estranhos, como deslindar as principais e onde vão beber influências?
Carlos Rui Ferreira – No Ocidente, existem inúmeras: o Bikram, o Iyengar, o Ashtanga Yoga ligado ao Pattabhi Jois, o Yoga de Kashemira, o Satyananda desenvolvido com o Sivananda: são estas as escolas com mais influência a nível mundial. Depois há muitas escolas e movimentos impossíveis de conhecer, acaba por ser uma questão de marketing. Para estudar yoga a sério, o ideal é ir para a Índia, porque geralmente os bons professores não saem do seu espaço. Grande parte dos mestres de uma arte são radicais, no sentido em que não vão à procura dos alunos, como os professores ocidentais. Daí que exista uma diferença muito grande entre ensinar uma arte e vender um produto.
NM – Como geriu a sua formação?
Carlos Rui Ferreira – Fiz toda a formação que podia aqui em Portugal. Em Londres, estive ligado a um movimento que faz formação e onde cheguei a fazer provas de formação de instrutores: também fiz os cursos do Satyananda, na Índia, e tenho acompanhado seriamente o método de yoga do sul da índia, onde se insere o lyengar – mas os indianos não dão diplomas, é quase um insulto pedir a um mestre indiano um papel a dizer que sabemos fazer yoga, põem-nos logo na rua. No Ocidente é que isso ganha importância.
NM – Como surgiu o Centro Português de Yoga?
Carlos Rui Ferreira – Em princípio sou muito avesso a organizar e instituir alguma coisa – não só não tenho pachorra como não me agrada a ideia de liderar movimentos. Só que isto surge quase como uma imposição, de salvaguardar os interesses das pessoas que estão ligadas ao yoga de uma maneira séria, e de ter uma figura jurídica válida para o mundo ocidental. Uma série de pessoas com experiência no yoga, praticantes há muitos anos, reuniu-se numa Associação Portuguesa de Yoga.
NM – O que preconizam?
Carlos Rui Ferreira – Como projecto pretendemos divulgar o yoga, ensinar a prática dentro das bases que trabalhamos – não as melhores ou as piores, são as nossas, que gostamos e tentamos aperfeiçoar. Como objectivo secundário fazemos cursos de formação de instrutores para quem quer ensinar yoga, mas o essencial é divulgar: fazemos retiros, workshops, demonstrações, e tudo o que esteja ligado ao yoga como arte prática.
NM – Falava de praticar yoga como gostam, de yoga técnico e de yoga como arte. O que praticam, afinal?
Carlos Rui Ferreira – Dentro do que se entende como yoga no Ocidente, fazemos um yoga mais físico, ligado ao Hatha Yoga, no sentido em que não doutrinamos ninguém, nem passamos conhecimentos estritamente teóricos sem uma prática física intensa.
NM – Por oposição, técnica versus mística?
Carlos Rui Ferreira – Partindo do princípio de que o yoga é uma forma de integrar e unir o ser humano como um todo [do sânscrito, yoga significa unir], dificilmente o ser humano por sua própria vontade consegue chegar aos espaços interiores da sua mente. A estrutura física – e a postura, a maneira como o ser humano se movimenta e vive o seu corpo – é um reflexo da actividade mental ou do ajustamento da estrutura psicológica e emocional ao mundo.
O yoga usa este particular, a estrutura física e o corpo, para libertar a mente. Porque o corpo está condicionado, e está condicionado pela mente. As técnicas de alinhamento, correcção articular, reajustamento da coluna vertebral, agem profundamente sobre os órgãos internos e sobre a estrutura psicológica. Porquê? Porque libertar o corpo implica libertar a mente, não existe uma fronteira – o corpo será uma extensão da actividade mental e a mente uma extensão da actividade física.
Como não podemos ir dentro da cabeça e abrir espaço, o yoga usa a técnica física e a técnica respiratória e de relaxamento para conduzir o praticante ao pressuposto do início desta conversa que é a liberdade: libertar o corpo coloca o praticante perante a sensação de bem-estar e de capacidade de gerir a sua existência.
NM – Como determinar os efeitos terapêuticos do yoga?
Carlos Rui Ferreira – Se for fazer natação sabe que tem efeitos terapêuticos, se for fazer aeróbica, jogar ténis, todas as actividades que mexam com o corpo têm, de alguma forma, algum efeito terapêutico – melhoria da actividade cardiorespiratória, dos reflexos, etc. Os efeitos terapêuticos do yoga são mais visíveis e a acção é mais profunda que nas actividades desportivas, porquê?
Porque actua conscientemente sobre os órgãos internos, e toda a movimentação que o praticante faz tem como objectivo a acção consciente sobre os órgãos internos.
Porque o que acontece com muitos “desportistas” é que a estrutura exterior é robusta, têm um ar bronzeado, musculado, mas organicamente estão debilitados – enquanto o bom aspecto do praticante de yoga apenas reflecte os efeitos internos sobre a saúde orgânica. O objectivo do yoga não é fazer terapia, mas tem um efeito profundo na saúde das pessoas – esse objectivo terapêutico é uma preocupação a posteriori e ocidental.
NM – O yoga já se tomou uma moda, esse bem-estar e boa aparência fazem com que seja procurado como antídoto para o stress ou maneira de estar em forma. Em Portugal também tem crescido o número de praticantes. Chegam com outras motivações?
Carlos Rui Ferreira – Qualquer motivação para fazer yoga é óptima e digna: seja por questões estéticas, por melhoria na saúde, por insegurança, por querer flexibilidade. Apenas excepcionalmente as pessoas vêm pelo interesse no yoga e nos seus objectivos, a maior parte quer realizar os seus objectivos através do yoga.
NM – Existe no Ocidente uma vaga ideia de que, se fosse estudado cientificamente, o yoga poderia ser um auxiliar medicinal. Acredita ser possível transformar o yoga numa ciência?
Carlos Rui Ferreira – Primeiro, o yoga é património da Humanidade e é inegável que produz efeitos na estrutura psicofísica a vários níveis. Nalguns casos e nalgumas doenças, principalmente ligadas a hábitos de vida urbanos – falta de movimento e maus hábitos alimentares – o yoga pode potenciar mudanças no estilo de vida.
Como estrutura ou técnica estritamente terapêutica, tenho muitas dúvidas, porque o yoga nunca se propôs ser uma terapia, para isso a Índia tem a medicina Ayurvédica, que funciona como terapia e que usa até alguns dos exercícios do yoga. Se fosse levado a sério nalguns casos de recuperação articular, de disfunções orgânicas, teria efeitos reais.
Mas como vai um médico convencional, que fuma dois maços por dia e atende 20 pacientes em duas horas, receitar uns exercícios que ele nunca fez? É que ensinar yoga implica experiência e vivência prática daquele que ensina. Duvido muito que alguma vez o yoga seja usado como terapia na medicina ocidental.
NM – Conhece casos de recuperação de problemas de saúde com praticantes de yoga?
Carlos Rui Ferreira – Muitos, mas porque mudaram de estilo de vida e usaram o yoga conscientemente, a nível de problemas do sistema nervoso, distúrbios digestivos, de recuperação da movimentação articular e, sobretudo, na prevenção de doenças associadas ao stress. A outro nível, existem na Índia algumas clínicas que usam as técnicas do yoga de forma contundente em problemas mais graves, como recuperação traumatológica.
NM – Com que idade se pode fazer yoga?
Carlos Rui Ferreira – Desde que se nasce até que se morre. Com as devidas ressalvas e os ajustamentos apropriados à faixa etária ou à condição física, qualquer pessoa pode fazer yoga. Tenho alunos que começaram aos 60, e hoje, aos setenta e poucos, estão em melhor forma do que estavam aos 50.
O que é fantástico, sobretudo na sociedade ocidental, onde, por norma, é considerado que as pessoas perdem aptidões e actividade com a idade. Pelo contrário, os praticantes de yoga das faixas etárias mais elevadas têm muitas vezes mais qualidade de vida, mobilidade, e até maior destreza, que pessoas de vinte anos.
Envelhecer não implica inaptidão e imobilidade física, pelo contrário, é sinónimo de aumento de inteligência corporal. As pessoas perdem vigor juvenil mas compensam com agilidade, subtileza e capacidade de concentração.
NM – Alguns mitos associados ao yoga fazem com que seja olhado com desconfiança…
Carlos Rui Ferreira – A primeira grande relutância das pessoas passa pela forma como é apresentado: muitas vezes tenta passar uma mensagem religiosa ou filosófica a que querem dar o nome de yoga, o que provoca um certo afastamento das pessoas de formação ocidental, que já encontraram as suas opções e não estão dispostas a serem colonizadas por algum tipo de “indianismo”. Só que isso nada tem a ver com yoga que, como técnica física, de movimento, nada tem a ver com mensagens religiosas.
A outra relutância é que, em geral e na sociedade portuguesa, as pessoas não estão muito motivadas para a actividade física. Não por ser yoga, mas porque nas escolas a actividade física é considerada secundária, a nível das instituições de saúde a importância do exercício ainda não é levada em consideração na saúde dos indivíduos e da própria sociedade – que implicaria uma poupança enorme nos serviços médicos, até mesmo em acidentes de trabalho e/ou de viação, pois a capacidade de atenção e de controlo motor dos indivíduos influencia a vida das sociedades.
NM – Que tipo de ideias erradas chegam com os novos praticantes?
Carlos Rui Ferreira – A maior parte das pessoas pensa que vai chegar a uma aula, sentar-se e ficar de pernas cruzadas, de olhos fechados e a pensar não sei em quê, num estado passivo. Pensam que vamos passar doutrinação, ou que vamos levitar ou fazer coisas estranhíssimas, ou que vai encontrar uma entidade superior que os vai guiar…
NM – Esperam um guru?
Carlos Rui Ferreira – Não esperam que eu o seja (algo que qualquer dos instrutores ligados a esta associação sempre rejeitaria), mas muitas pessoas estão à espera de alguém que lhes resolva a vida, porque exige esforço tomar conta da própria saúde e da própria vida. Uma das coisas que pode provocar um maior choque é que o yoga conduz à consciência de si próprio, e á obrigação de gerir a existência de uma forma auto-suficiente.
NM – Uma aula de yoga pode reforçar essa autonomia no ser humano?
Carlos Rui Ferreira – Penso que sim. A sensação é de independência e de conquista, pois os praticantes conquistam a comunicação com o seu próprio corpo e isso dá uma liberdade inegável: criam novos espaços de movimentação nas articulações, descomprimem a coluna vertebral, soltam tensões acumuladas entre/sobre os órgãos, e o espaço orgânico que se cria equivale a um espaço mental, aberto pela utilização inteligente do corpo – mesmo que a nível consciente não seja perceptível.
NM – O yoga é a chave para uma vida saudável?
Carlos Rui Ferreira – O yoga pode ser uma das chaves para uma vida saudável, e para um determinado leque de pessoas – como muitas outras opções, de resto. Se a pessoa não tiver empatia com esta arte de origem indiana pode fazer outra coisa – andar de skate, mergulho, longas caminhadas…
NM – Quais as actividades que podem provocar bem-estar e níveis de energia idênticos aos do yoga?
Carlos Rui Ferreira – Pode assemelhar-se à descida de um rápido tortuoso em caiaque: chega-se lá ao fundo depois de uma série de saltos e pulos, com um nível de dinamismo interior semelhante ao sentido após uma prática de yoga – sem o repouso e a tranquilidade, claro. A sensação de desafio e conquista dos desportos radicais pode assemelhar-se, o yoga é radical nas sensações. Mas por outro lado, o yoga pode assemelhar-se à tranquilidade de se sentar no topo de uma montanha, cria um estado de interioridade associado à dinâmica. De resto, yoga faz-se em todo o lado, a cozinhar, a comer, sentado numa mesa a conversar…
O que é o yoqa?
A definição mais simples de yoga, resume Carlos Rui Ferreira, será a de “uma disciplina prática de vida”, e “uma atitude meramente teórica perante o yoga é desprovida de bom senso”.
Outra definição, mais erudita, é descolada do texto clássico de Patañjali, o Yoga-Sutra, que diz em sãnscrito, a língua culta da Índia antiga, “o yoga é o controlo da actividade da mente”. A explicação mais técnica, defende que “o yoga é a metodologia estritamente prática que conduz o praticante ao Samadi”, ou à libertação. É assim um meio de o indivíduo atingir a liberdade, e não uma doutrina (nunca diz o que o indivíduo deve fazer com a sua liberdade).
Só que nestes quase cinco séculos de existência comprovada, as tentativas de instrumentalizar ou marginalizar vieram de todos os quadrantes. “O yoga foi sempre um movimento contra-cultura ao predomínio da estrutura cultural indiana”, ferindo a essência do sistema de castas dominado pelos Brâmanes, mediadores divinos (versus libertação do indivíduo). Mesmo depois de Patañjali (300 anos a.C.) elevar o yoga a um dos Darshana (pontos de vista) da cultura indiana, o yoga adultera-se no imenso retalho de culturas e movimentos místicos do sub-continente.
Chega ao Ocidente através das grosseiras traduções dos evangelizadores cristãos ou como atracção circense (“o homem que não respira e se torce num novelo!”), e regressa “na volta dos anos 60 do séc. XX com os Beatles e os Hare Krishna e essa gente toda, nesse movimento que pretende tranquilizar os contestatários às guerras de 60 e os revolucionários do Maio de 68. Nada melhor do que colocar todos os jovens desocupados a cantar mantras, tomar LSD e a apregoar paz e amor”.
Só quando um yoga mais técnico aparece no Ocidente, nas últimas décadas, é que desaparece a imagem de imobilismo místico do yoga. Mas sempre filtrando a parte especulativa-teórica ou Samka do yoga, porque vai contra a estrutura institucional ocidental: “99,9 por cento dos livros ocidentais sobre yoga contém uma tisnadela Vedanta” (uma escola menor da cultura indiana, que pressupõe um monismo ou realidade única), que apazigua a crença monoteísta cristã”.
Chama-se… Carlos Rui Ângelo Couto Ferreira
Nasceu… a 3 de Agosto de 1958
O cúmulo do Zen… são os pequenos mestres e gurus ocidentais a querer impor métodos desajustados à nossa realidade
O Samadi na Terra… é permanecer em estado de aprendizagem toda a vida
O que faz levitar… é o lado fantástico das pessoas com quem temos o privilégio de conviver
Se os poderosos do mundo praticassem yoga… a saúde do planeta podia melhorar
A melhor posição para Guterres… o Urdhva Dhanurasana, a chamada “ponte” – emagrecia e dava-lhe mais vitalidade
Para Bush só métodos radicais… como limpezas e jejum poderiam desintoxicá-lo mentalmente. Podia era ir cantar mantras com os Hare Krishna…
“Em Portugal, as pessoas não estão motivadas para a actividade física e as instituições ainda não reconhecem a importância que tem na saúde e economia da sociedade”
“Qualquer pessoa pode fazer yoga: tenho alunos que começaram aos 60 anos e hoje estão em melhor forma do que estavam aos 50!”