O Yoga não tem nada a ver com o movimento hippie

Entrevista a Carlos Rui Ferreira.

“O Yoga não tem nada a ver com o movimento ‘hippie’”

Vai para a Índia dois meses todos os anos. Porquê? fazer reciclagem das técnicas de Yoga. Aliás, para Carlos Rui Ferreira, terapeuta e professor, 42 anos, o Yoga é uma arte. Está na moda, certo, mas tem um potencial que a maioria ainda não descobriu. Complementa-o com a técnica japonesa do Shiatsu.

Invista — Começando pelo ‘Shiatsu’: como entra na sua vida?

Carlos Rui — Foi numa altura em que tive que fazer opções do ponto de vista profissional. Surgiu como uma forma de abordagem física, com uma componente de movimentação e uma abordagem que fosse além daquilo que se faz por norma no Ocidente como terapia de manipulação, sendo um pouco vazia de conteúdo. Faltava qualquer coisa que encontrei no “Shiatsu” como arte. Isto há cerca de 20 anos.

In — Quando começou, sentiu em Portugal algum tipo de preconceito ou resistência?

Carlos Rui — Na altura, a abordagem destas artes estava no início. Estas soluções alternativas, quer ao nível da alimentação, quer os cuidados com a saúde, estava mesmo incipiente. Era quase um deserto e as pessoas não estavam sensibilizadas. Não havia muita receptividade.

In — O que mudou entretanto?

Carlos Rui — Na última década, em particular nos últimos cinco anos, houve uma abertura enorme. Hoje, as pessoas estão mais despidas da pressão convencional que encontrávamos há 10 anos. Cada vez há mais pessoas a procurar este tipo de alternativas e, mais importante, procuram respostas com qualidade, com um sentido crítico mais apurado.

In — Quais os reflexos mais imediatos do “Shiatsu” enquanto terapia?

Carlos Rui — Primeiro, o “Shiatsu” é uma terapia preventiva. O seu campo prioritário é na prevenção da nossa capacidade imunológica, física, emocional, etc. Visa sobretudo manter e aumentar a nossa capacidade natural de recuperação de situações de “stress” numa sociedade tão agressiva. Numa função secundária, pode actuar como terapia complementar de outras terapias que são mais associadas a casos agudos e graves.

In — O que uma pessoa sente?

Carlos Rui — Descompressão de toda a estrutura muscular e nervosa. As manipulações são feitas com as mãos, com os pés, há ajustamentos nas articulações e na coluna vertebral, o que permite que grande parte da tensão mental seja descomprimida através da descompressão muscular.

In — De onde vem o ‘Shiatsu’? É um sincretismo sino-Japonês…

Carlos Rui — Grande parte das terapias médicas [não medicamentosas] vão beber à China. O ‘Shiatsu’, a partir de 1926, começa a ter uma expressão como estrutura organizada, juntando as artes tradicionais chinesas com as artes tradicionais japonesas.

In — O que quer dizer ‘Shiatsu’?

Carlos Rui — “Shi” é dedo e “Tsu” significa pressão. Pressão dos dedos no corpo. O ‘Shiatsu’ não usa agulhas, não usa nenhum instrumento entre o paciente e o terapeuta.

In — Quais as relações possíveis entre o ‘Shiatsu’ e o Yoga?

Carlos Rui — Primeiro, são duas artes, uma é japonesa, a outra é indiana. Comecei com o ‘Shiatsu’, como uma técnica específica de abordagem física a outra pessoa; o Yoga é importante se a pessoa tem a sua própria prática. Existem aí alguns pontos de cruzamento, porque ambos trabalham com o corpo: o ‘Shiatsu’ obriga a abordar o corpo de outra pessoa; o Yoga obriga conhecer o corpo da própria pessoa. É complementar. Por exemplo, um terapeuta que desconheça o seu corpo não será um terapeuta excepcional.

In — O Yoga é muito introspectivo?

Carlos Rui — Não, não é muito introspectivo. É até bastante exteriorizável, ao contrário do que se pensava nos anos 60 e 70, as pessoas sentavam-se e ficavam à espera que chovesse e imaginando não sei o quê… O Yoga tem uma abordagem muito forte ao nível da postura física, muito contundente ao nível da movimentação, actividade respiratória, técnicas de relaxamento e controlo mental. Nada tem a ver com o que foi transmitido pelo movimento ‘hippie’. Na índia, o Yoga não passa bem por aí. O Yoga é muito dinâmico.

In — Há muita procura?

Carlos Rui — Tenho as aulas todas cheias. Não tenho capacidade de resposta para as pessoas que me procuram no Yoga.

In — Como poderá sintetizar o Yoga?

Carlos Rui — Primeiro, o Yoga é uma arte. Depois, como arte, conduzirá através das posturas físicas a melhorar o alinhamento do seu corpo, a ganhar uma melhor consciência na sua movimentação, melhora a tonicidade muscular. A nível respiratório, ensina o praticante a respirar melhor, como rentabilizar a sua respiração, o que é fundamental. Se não respiramos convenientemente, as nossas células não são oxigenadas. Grande parte das pessoas tem um débito de 15 a 18 respirações por minuto e, ao fim de um ano, ano e meio de prática, esse débito passará para 8 a 10 respirações por minuto, o que é uma economia enorme de esforço. A nível das técnicas de relaxamento, vai-lhe permitir ganhar consciência do seu corpo e como descontrair a sua estrutura física e o seu sistema nervoso. Melhora a sua concentração e a localização da atenção.

In — Pode-se fazer sozinho?

Carlos Rui — O Yoga pretende que o praticante seja autossuficiente. Mas não confundir isso com pegar num livro e começar a fazer Yoga. Se não sabe nadar, é como um livro de natação: leia-o, vá para um barco, atire-se e nade até à praia… No Yoga é o mesmo: ninguém aprende com um livro ou por fotografias. Deve aprender com um professor competente e formado.

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